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Quando a temporada de 1980 começou, o Brasil vivia uma época de vacas magras na Fórmula 1. Desde a última vitória de Emerson Fittipaldi, na Inglaterra, em 1975, o país não via um piloto brasileiro no lugar mais alto do pódio. Em 1978, chegou perto, quando Emerson terminou em segundo no GP do Brasil, em Jacarepaguá, a bordo do Copersucar. Foi uma festa, mas tanto para a torcida quanto para grande parte da imprensa esportiva, infelizmente acostumadas a valorizar apenas as vitórias, isso não bastava.
Encerrada a temporada de 1979, o descrédito era total e o desinteresse pela Fórmula 1 era tão evidente na época que fez com que a Rede Globo deixasse de transmitir as corridas, entregando-as de bandeja para a TV Bandeirantes (acompanhe a íntegra da corrida no vídeo abaixo, com narração de Galvão Bueno em sua melhor fase e os comentários precisos do saudoso Giu Ferreira).
E foi assim que o Brasil teve, pela primeira vez, uma temporada sendo transmitida na íntegra para todo o país. Azar da Globo, sorte da Bandeirantes, pois justamente depois dessa transição a imagem do Brasil na Fórmula 1 começou a mudar.
Após as três primeiras etapas de 1980 - Argentina, África do Sul e Brasil -, Nelson Piquet, em quem a Brabham vinha apostando desde a saída de Niki Lauda, somava nove pontos e era o terceiro colocado no campeonato, atrás do líder René Arnoux, com 18 pontos, e de Alan Jones, com 16. Até então, este era o melhor resultado de um brasileiro na classificação geral, desde que começara o declínio de Emerson, em 1976.
Para a quarta etapa, a Fórmula 1 desembarcou em Long Beach, nos Estados Unidos. E foi ali que, na tarde de 30 de março, boa parte dos brasileiros voltou a demonstrar algum interesse pela categoria, reiniciando um hábito que, a partir daquele dia, se tornaria constante por mais 14 anos, até a morte de Ayrton Senna.
Piquet marcou a pole position - a primeira de sua carreira na Fórmula 1 -, com o tempo de 1min17s.694, botando quase um segundo de diferença em relação a Arnoux, com quem dividiu a primeira fila do grid. No domingo, um susto: durante o warm-up, Piquet e o irlandês Derek Daly, da Tyrrell, se envolveram em um acidente, fazendo com que a Brabham BT-49 do piloto brasileiro decolasse e caísse violentamente com as quatro rodas no chão, enquanto a Tyrrell seguiu em direção à área de escape. Mas nada de grave aconteceu e o carro de Piquet estava apto para ir à pista.
Na largada, Piquet saiu-se bem e, em poucas voltas, começou a abrir uma boa vantagem sobre o francês Patrick Depailler, da Alfa Romeo, passando a administrar a diferença em relação aos demais durante todo o restante da prova. Com isso, boa parte da emoção da corrida pôde ser vista no pelotão intermediário, onde ocorreu a maior parte das ultrapassagens e também alguns acidentes.
Entre os acidentes, o de maior gravidade acabou pondo um fim à carreira do suíço Clay Regazzoni. O piloto perdeu o controle de sua Ensign na 53ª volta, batendo violentamente contra o muro e ficando preso no cockpit por cerca de 20 minutos. No hospital, foram constatados ferimentos leves na cabeça, fraturas múltiplas na perna direita, lesão na coluna e suspeita de lesões internas. Dias depois, Regazzoni estaria condenado a passar o resto de sua vida em uma cadeira de rodas, até sua morte, em 2006, decorrente de um acidente de trânsito.
Nos momentos finais da prova, Piquet continuava abrindo a diferença em relação aos demais. Na volta 63, com o italiano Riccardo Patrese, da Arrows, na segunda colocação, a vantagem já era de 52 segundos. E a corrida prosseguiu assim, até a bandeirada final, depois de 80 voltas, com Piquet conquistando sua primeira vitória na Fórmula 1. Patrese permaneceu em segundo, com Emerson Fittipaldi completando o pódio, em terceiro, sendo esta a última participação do Fittipaldi F7 na categoria.
Nelson venceu de ponta a ponta, aproveitando também para estabelecer o novo recorde da pista, na volta 38, com o tempo de 1min19s83, quebrando a marca estabelecida por Gilles Villeneuve, em 1979. E de quebra, assumiu a liderança do campeonato, empatado em 18 pontos com Arnoux.
Naquele 30 de março, o Brasil colocou um fim a um jejum de quase cinco anos sem vitórias na Fórmula 1. E Nelson Piquet consolidava, a partir daquele dia, o início de sua bela carreira.
Pos | Piloto | País | Equipe / Motor | Diferença / Abandono | Voltas |
---|---|---|---|---|---|
1 | Nelson Piquet | Brabham / Ford | - | 80 | |
2 | Riccardo Patrese | Arrows / Ford | a 49.212s | 80 | |
3 | Emerson Fittipaldi | Fittipaldi / Ford | a 1:18.563s | 80 | |
4 | John Watson | McLaren / Ford | a 1 volta | 79 | |
5 | Jody Scheckter | Ferrari / Ferrari | a 1 volta | 79 | |
6 | Didier Pironi | Ligier / Ford | a 1 volta | 79 | |
7 | Jochen Mass | Arrows / Ford | a 1 volta | 79 | |
8 | Derek Daly | Tyrrell / Ford | a 1 volta | 79 | |
9 | René Arnoux | Renault / Renault | a 2 voltas | 78 | |
10 | Jean-Pierre Jabouille | Renault / Renault | a 9 voltas | 71 | |
- | Keke Rosberg | Fittipaldi / Ford | Superaquecimento | 58 | |
- | Clay Regazzoni | Ensign / Ford | Acidente | 50 | |
- | Bruno Giacomelli | Alfa Romeo / Alfa Romeo | Colisão | 49 | |
- | Alan Jones | Williams / Ford | Colisão | 47 | |
- | Gilles Villeneuve | Ferrari / Ferrari | Transmissão | 46 | |
- | Patrick Depailler | Alfa Romeo / Alfa Romeo | Suspensão | 47 | |
- | Jacques Laffite | Ligier / Ford | Furo no pneu | 36 | |
- | Eddie Cheever | Osella / Ford | Transmissão | 11 | |
- | Carlos Reutemann | Williams / Ford | Transmissão | 3 | |
- | Jean-Pierre Jarier | Tyrrell / Ford | Acidente | 3 | |
- | Elio de Angelis | Lotus / Ford | Acidente | 3 | |
- | Jan Lammers | ATS / Ford | Transmissão | 0 | |
- | Mario Andretti | Lotus / Ford | Acidente | 0 | |
- | Ricardo Zunino | Brabham / Ford | Acidente | 0 | |
NQ | Dave Kennedy | Shadow / Ford | Não se qualificou | - | |
NQ | Geoff Lees | Shadow / Ford | Não se qualificou | - | |
NQ | Stephen South | McLaren-Ford | Não se qualificou | - | |
NP | Marc Surer | ATS / Ford | Não participou (ferido) | - |
Vi
ResponderExcluira corrida na íntegra, tempos atrás. Além da vitória incontestável e
segura do Nelsão, foi interessante a prova de recuperação do Emerson
Fittipaldi, que naquele dia fechava o grid. Galgou posições com sua
constância e com os problemas dos adversários.
O pódio - com Piquet, Patrese e Fittipaldi, marcava a transição da
década de 70 - em que Emerson foi campeão antes do desafio da Copersucar
- para a de 80, em que surgia e se afirmava Nelson Piquet. Foi uma
sucessão. Uma história a ser sempre eternizada, em combate a amnésia
coletiva e a "idolatria do herói do momento".
Uma corrida daquela época remete, a meu ver, à Fórmula 1 que muita gente passou a admirar, com características que hoje em dia não se vê mais: pilotos com personalidade forte, capazes de soltar uma frase de efeito em uma entrevista, sem a preocupação exagerada com a imagem; carros com designs variados, fruto da liberdade que os projetistas tinham antigamente, sem o exagero de restrições do regulamento; layout interessantes (os carros eram bem mais bonitos naquela época); a saudosa coroa de louros usada nos pódios, e que era tão característica das corridas. A lista é imensa. Obrigado pelo comentário e apareça sempre que puder. :-)
ResponderExcluirEu que agradeço pelo espaço e todas as opiniões encontrarão concordâncias e discordâncias. Sobre as restrições de regulamentos, a Fórmula 1 (do chamado "velhinho tenebroso", Tio Benie) se transformou na "grande" projetista da atualidade. Com as restrições que ela impôs as criações dos projetistas, a Entidade que é o próprio Tio Bernie abortou o surgimento de Colins Chapmans, Patricks Heads, Adrian Neweys, enfim: engessou a criatividade. Que a era pós-Bernie e com Novo Pacto da Concórdia (o atual vence em 2019?) entre as equipes e a categoria tragam as mudanças carece.
ResponderExcluirCara, que espetáculo! Eu era criança e me lembro que vi essa corrida com meu saudoso avô. Obrigado por sempre compartilhar essas relíquias conosco.
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