segunda-feira, 13 de abril de 2015

Marcos Breda: paixão pelos palcos e pela velocidade

 © 2014 - César Araújo / VIPCOMM
Para boa parte do público brasileiro, o nome de Marcos Breda é bem conhecido. Muita gente sabe que ele é um famoso ator de novelas e, depois de tantos anos, ainda guarda na memória alguns de seus personagens, como o Hans, de Mandala (1987), e o Pimpim, de Que Rei Sou Eu? (1989).

Mas sua fama vai muito além da TV. Há mais de três décadas na profissão, este gaúcho de 54 anos, nascido em Porto Alegre, coleciona uma série de personagens marcantes também no teatro e no cinema. Sem contar os prêmios conquistados durante os 34 anos de uma longa, versátil e bem-sucedida carreira.

Fora das telas e dos palcos, poucos sabem que Breda é também um verdadeiro apaixonado por automobilismo, principalmente a Fórmula 1, categoria que acompanha desde 1973, influenciado pelo pai. E conhece o assunto como poucos, sendo daqueles de virar madrugadas acompanhando treinos e corridas, se for necessário. Nas horas vagas, é nas pistas de kart - onde fez vários amigos - que ele deixa essa paixão pela velocidade tomar conta, tendo o mesmo compromisso empenhado ao decorar seus textos.

Na semana passada, Marcos me concedeu alguns minutos para um bate-papo bem descontraído sobre automobilismo, cujo resultado você acompanha agora, nesta entrevista exclusiva para o Almanaque da Fórmula 1.

Quando começou seu interesse por automobilismo?

Sei te precisar exatamente quando aconteceu. Foi em meados de 1973. No Natal de 1972, eu ganhei de presente um daqueles autoramas dos irmãos Fittipaldi e, em 1973, lembro que estava passando o Grande Prêmio de Mônaco. Meu pai estava assistindo e então ele me chamou até a sala, dizendo para eu assistir, que eu ia gostar. Aí, parei em frente à TV e estava tendo um duelo entre a Tyrrell azul do Jackie Stewart e a Lotus preta e dourada do Emerson Fittipaldi. O Stewart acabou ganhando e o Emerson chegou em segundo, mas eu já era fã porque tinha o carrinho preto e dourado no meu autorama e o Emerson tinha sido campeão da Fórmula 1, em 1972. E ganhei aquele autorama por causa disso. Fiquei fascinado de ver meu carrinho de autorama ali na televisão, andando de verdade naquela pista de Mônaco. Foi o primeiro Grande Prêmio que eu assisti ao vivo, pela televisão. De lá para cá, já se passaram 42 anos e assisti cerca de 90% das corridas de Fórmula 1 transmitidas ao vivo.

Depois que o Emerson terminou a carreira dele na Fórmula 1 e foi para a Fórmula Indy, comecei a acompanhá-lo também e, nesse período, teve a chegada do Nelson Piquet, com ele sendo campeão pela primeira vez em 1981. Depois, veio o Ayrton Senna. Acompanhei a carreira de todos esses pilotos ao longo dos anos. E curto até hoje, assistindo Fórmula 1, Fórmula Indy, Stock Car... Frequento as corridas e conheço a maior parte do grid da Stock Car hoje em dia. São meus amigos, pessoas que eu conheço. Acompanho muita coisa relacionada a automobilismo, gosto pra caramba, ando de kart há mais de 20 anos e participo de competições. Nunca vou deixar de ser apenas um piloto amador, mas me dedico com paixão, é o meu hobby, faço com o maior carinho e capricho. Quando a gente tem ao menos duas paixões na vida, uma delas vira profissão e a outra vira hobby. Foi isso o que aconteceu.

Naquela época você acompanhava apenas a Fórmula 1?

Sim, mas eu lia sobre tudo o que acontecia. Sabia de cor os nomes dos pilotos, dos carros, das equipes, conhecia os equipamentos, quem usava motor Ford, quem usava motor Ferrari, quantos cavalos, qual era o pneu que usava, quais eram as pastilhas e freios usados. Eu sabia os nomes dos projetistas e dos chefes de equipe, colecionava revistas como a Quatro Rodas, que tinham reportagens sobre automobilismo em geral e a Fórmula 1. A Fórmula 1 era um esporte de risco muito maior do que é hoje. Lembro que, quando comecei a assistir, em 1973, ocorreu o acidente que matou o Roger Williamson, quando o carro dele começou a pegar fogo e o David Purley não conseguiu virá-lo. E também os treinos do GP dos Estados Unidos, quando morreu o François Cevert. Tudo aquilo eu acompanhei.

 A lendária Tyrrell de seis rodas, criada por Derek Gardner
Fora as tragédias, também tinham aquelas coisas que o regulamento permitia e hoje não mais, como as invenções mirabolantes de engenharia. O Derek Gardner, que era o projetista da Tyrrell, teve a ideia do P34, de seis rodas, e que causou a maior sensação quando lançaram. E também o Colin Chapman, quando inventou o carro-asa, com aquelas saias laterais que ficavam se arrastando pela pista. Sempre surgiam uns truques mirabolantes. Hoje, acho os carros muito parecidos, porque não tem muita brecha em termos de criatividade.

Lembro de quando surgiu o Lotus 79, do Mario Andretti, que era aerodinamicamente limpo, todo bem desenhado. Era um carro espetacular. Eu gostava de olhar a aerodinâmica dos carros e ver as soluções que eles tinham. Na época, eu tinha feito vestibular e estudava Engenharia Mecânica, pois era um assunto que me fascinava. Acompanhei tudo isso com muito interesse e me lembro que, no ano retrasado, fui ver o filme Rush, na pré-estreia em São Paulo, e tinha uma plateia só de pilotos. Estavam lá o Emerson, o Rubens Barrichello e também jornalistas, como o Reginaldo Leme e o Lito Cavalcanti. Eu estava sentado ao lado do Lito, que é meu amigo. Quando passou a cena em que o James Hunt foi desclassificado na Espanha, por causa da largura da bitola traseira da McLaren, comentei com ele sobre a medida da bitola e ele discordou, dizendo que a medida era outra. E aí apareceu na tela o que eu tinha falado. Daí o Lito brincou, dizendo que ia perder o emprego dele para mim. Isso aconteceu porque eu também tenho uma boa memória, o que me permite lembrar desses detalhes daquela época.

Como você define seu perfil de fã de automobilismo?

Eu gosto muito, sou muito fissurado. Sou daqueles que acordam de madrugada para ver treino, ver corrida na China. E com o kart, não é diferente. Domingo de chuva, seis horas da manhã, lá estava eu de pé para correr uma etapa do Campeonato Carioca de Kart. Precisava de muita disposição. Disputei muitas edições das 500 Milhas de Kart. No ano passado, eu disputei a décima edição das 500 Milhas. Já passei também por diversas situações como piloto de kart e isso me serve para ter uma noção exata do quanto esses caras são bons. O cara que está em casa, vendo pela TV, diz que fulano é braço-duro ou barbeiro, mas essas pessoas não têm ideia da imensa dificuldade que é quando você está lá dentro. E falo isso tendo apenas a experiência de kart. Imagine nos anos 70, com aqueles carros de 550 cavalos e com uma tecnologia menos evoluída do que a de hoje em dia. E com segurança menor ainda.

Lembro que, em 1974, o Emerson inovou com uma viseira à prova de bala, porque teve um GP da França, em Clermont-Ferrand, em que uma pedra atingiu e atravessou a viseira do Helmut Marko, que hoje trabalha na Red Bull. Ele perdeu a visão por causa disso. E aí o Emerson desenvolveu, acho que com a ajuda da Bell, uma viseira à prova de bala, algo que hoje é equipamento padrão. E nos anos 50, quando nem usavam capacete, mas uma touca de couro, com um lenço, e nem havia santantônio? Até hoje, para ser piloto, tem que ser muito corajoso. E andando de kart, aprendi a respeitar esses caras e a admirar a habilidade deles. Faz dois anos que me associei com a Bia Figueiredo, que é muito minha amiga, para montar uma equipe para as 500 Milhas. E é uma equipe que deu supercerto, porque é mista, com pilotos de verdade e atores que gostam de pilotar. No ano passado, foram três atores e cinco pilotos: a Bia, o Allam Khodair, o Felipe Lapenna, o Galid Osman e o Alan Syntes. Do lado dos atores, tínhamos eu, o Rafael Cardoso e o Paulo Nigro.

 © 2013 - Acervo Pessoal / Marcos Breda
Marcos Breda e os colegas da equipe Dart 500: Paulo Nigro, Rafael Cardoso, Bia Figueiredo e Allam Khodair

E é impressionante o abismo técnico que existe entre um piloto profissional e um amador. A gente anda de kart há muitos anos e, por mais que a gente tente, ficar a menos de um segundo deles é uma proeza. E é interessante participar de um evento desses com pessoas por quem você tem admiração, carinho e respeito. É muito legal. Respeito muito os pilotos pela capacidade deles de manter o foco e a concentração, algo que eu acabo usando em meu trabalho. Um ator também trabalha muito com foco e concentração, tendo que repetir a mesma cena, noite após noite, ao longo de meses. É mais ou menos como o piloto faz, quando fica dando voltas na pista, procurando sempre tirar um, dois ou três centésimos por volta, até encontrar aquela que ele considere perfeita. O ator de teatro, por exemplo, faz isso toda noite, repetindo a mesma peça, com as mesmas palavras, as mesmas movimentações, mas sempre procurando tirar um "pelinho" a mais de performance, graças à repetição, à concentração e ao foco. Acho que, nesse ponto, minha paixão pelo automobilismo acaba interferindo positivamente na minha profissão.

Isso tudo aconteceu por causa da influência do teu pai?

Meu pai era militar da Aeronáutica e trabalhava como mecânico, desmontando turbina de avião, essas coisas... Eu lembro que ele dirigia muito bem. Com cinco ou seis anos, ele me botava no colo para dirigir o Fusca da familia na estrada e, com nove ou dez anos, saí com o carro sozinho. Ele tinha me ensinado onde era o acelerador, o freio, as quatro marchas e aí saí de casa e dei umas voltas pelo quarteirão. Mas, curiosamente, nunca fui piloto quando criança. Resolvi andar de kart só depois dos 30 anos. Muito disso foi influência do meu pai, tanto na parte da mecânica quanto na pilotagem. Acho que foi até por isso que fiz o vestibular para Engenharia Mecânica, porque eu ficava fascinado com a habilidade que meu pai tinha de lidar com motores e me ensinar como as coisas funcionavam. Lembro que eu ia para a beira da praia, no litoral do Rio Grande do Sul. Fazia baliza, dava cavalo de pau... Eram competições feitas na areia, na beira da praia. Mais improvisado do que isso, impossível. Para desespero da minha mãe e orgulho do meu pai (risos).

Você chegou a se formar como engenheiro?

Cursei quatro anos de Engenharia, para depois largar e fazer Letras. Nessa época, eu já estava fazendo teatro e minha vida tinha tomado outro rumo. Mas o automobilismo sempre foi uma paixão e continua sendo, mesmo tendo largado a Engenharia. Virou uma vida paralela que mantenho até hoje.

Antes, você acompanhava tudo pelas revistas e jornais, mas e hoje? Você é do tipo que grava as corridas, coleciona DVDs, livros, revistas ou miniaturas?

Tenho algumas miniaturas, de carros dos anos 80 e 90, mas não tenho o costume de gravar as corridas. Fiz isso durante uma época. Mas vivo fuçando tudo no YouTube, em sites de automobilismo, em busca de informações das provas e dos carros, das alterações que as equipes vão fazendo ao longo do ano, na aerodinâmica e nos motores. Costumo acompanhar tudo isso e com a internet fica muito fácil. Como hoje eu conheço muitos pilotos que correm na Stock Car e sou amigo de vários deles, quase sempre, depois das corridas, eu telefono, pergunto o que aconteceu e, às vezes, eles compartilham alguns dados sobre o que fizeram para solucionar um problema. São detalhes que ficam mais interessantes quando o piloto vem te contar. Eu gosto disso, de fuçar a parte mecânica. No meu kart, sou do tipo que pega a flanela para polir o equipamento, procura um detalhe aqui e ali no motor. Quem gosta sempre tem essa paciência para mergulhar nos detalhes de ordem mecânica.

E os pilotos e equipes dos quais você mais gostava naquela época?

A primeira equipe da qual fui fã, claro, foi a Lotus, por causa do Emerson. Ele pilotava aquele carro preto e dourado, que eu achava lindo, com o patrocínio da John Player Special. Quando ele se mudou para a McLaren, vermelha e branca, patrocinada pela Texaco e pela Marlboro, também fiquei fã da equipe. Também gostava da Tyrrell, por causa do carro de seis rodas. E a Ferrari, lógico, até porque sou torcedor do Internacional de Porto Alegre e o vermelho me chama a atenção.

Também fui fã do José Carlos Pace e vibrei muito quando ele ganhou o GP do Brasil de 1975, com o Emerson em segundo. Lembro da Brabham que ele pilotava, a BT-44, patrocinada pela Martini. E eu já tinha uma Brabham do autorama, que era a do Wilsinho. Tinha também o Ingo Hoffmann e o Alex Dias Ribeiro. Esses caras todos eu vi correr e depois veio o Piquet, que começou pela Ensign, depois foi para a McLaren e, antes do fim da temporada, já estava na Brabham. Acompanhei toda a carreira dele. Depois, foi vez do Senna chegando com a Toleman, continuando com todas aquelas vitórias e corridas inesquecíveis. Ter assistido tudo aquilo ao vivo teve um sabor especial.

 © 2013 - Acervo Pessoal / Marcos Breda
 Marcos Breda e Rubens Barrichello, amigo de longa data
O Barrichello, por exemplo, eu conheci quando ele tinha 16 anos, em 1988, e corria de Fórmula Ford aqui no Brasil. A gente tinha ido participar do Viva a Noite, apresentado Gugu Liberato. Eu tinha 28 anos e ele tinha 16. A gente era jurado do programa. Lembro de quando ele começou a falar do carro dele, da temporada na Fórmula Ford. Era um moleque entusiasmado, falando de carro de corrida e das competições que ia disputar. E acabou que a gente ficou amigo e é uma amizade que se prolonga até hoje. Acompanhei a chegada dele à Europa, depois na Fórmula 1, pela Jordan. Aliás, naquela corrida em Donington, todo mundo fala do Senna e daquela primeira volta incrível, com ele passando o Michael Schumacher, o Karl Wendlinger e as Williams do Damon Hill e do Alain Prost. Mas a primeira volta do Barrichello também foi incrível. Ele estava em 12º e depois já estava em quarto lugar. Poucos se lembram disso, mas foi um começo de corrida fantástico para os dois. Depois, continuei acompanhando a carreira dos outros também, como o Nelsinho Piquet e o Felipe Massa. Costumo acompanhar os passos desses caras até hoje. Fora os brasileiros, tinha muito piloto que eu admirava. O Gilles Villeneuve, por exemplo, era um cara espetacular. Quem via ele correr sabe porque ele era adorado e endeusado dentro da Ferrari, pelas loucuras que ele era capaz de cometer.

Você acha que um dia ele poderia ter sido campeão?

Não, porque ele não pensava no campeonato. Ele pensava em uma corrida. Ele queria ganhar, não importava o que acontecesse. Ele era um piloto espetacular que, provavelmente, jamais teria sido campeão, mesmo se não tivesse morrido naquele acidente horrível nos treinos da Bélgica. Era uma loucura. Você via o cara correndo na chuva, com o spoiler dianteiro tapando completamente a visão, e ele acelerando até a peça sair voando. Lembro também da corrida em que ele correu com apenas três rodas e foi assim até os boxes. O carro estava lá, destruído, e os mecânicos, ao invés de reclamarem e xingarem, só faltaram beijar o cara.

Teve também aquela corrida incrível na França, com ele disputando contra o René Arnoux, da Renault. As últimas voltas, os pneus carecas, e eles ali, batendo roda. Lembro de quando vi isso ao vivo. Estávamos eu e meu pai na sala, a gente levantou do sofá e começou a gritar. Os caras eram loucos e esse tipo de coisa hoje não existe, mas naquela época, aqueles carros com motores turbo tinham uma potência imensa. E eram os carros-asa, com downforce suficiente para continuarem na pista enquanto ainda tinham as saias laterais em contato com o solo. Mas com aqueles impactos laterais, aquilo poderia causar uma perda de pressão aerodinâmica capaz de fazê-los decolar a qualquer minuto. E os caras nem aí. Continuavam se esfregando, batendo roda, e era incrível de ver. Cenas assim eu vi dezenas de vezes e acho muito fascinante.

Você chegou a cogitar a ideia de tentar carreira no automobilismo, quando estava cursando Engenharia, pegando carona na existência da Copersucar, por exemplo?

 Em 1987, com Malu Mader no filme "Feliz Ano Velho"
Não. Jamais pensei nisso. Minha cabeça estava focada primeiro no curso, aquela coisa mais teórica. Depois, quando virei essa página e comecei a trabalhar como ator, descobri que era apaixonado por automobilismo, mas que era mais apaixonado ainda pela profissão de ator. Nunca cogitei ser um piloto profissional, mas consegui fazer um acerto de contas com minha paixão de adolescência no kart. Virou um acerto de contas afetivo com meus sonhos de criança e com a minha relação com meu pai, por ele ter sido mecânico. Foi uma parte da minha vida que eu vivenciei da maneira correta. Acho que eu não teria sido um grande piloto, por mais apaixonado que eu fosse. Mas isso não me impediu de me dedicar profundamente ao kartismo. É algo que faço há mais de 20 anos.

Eu disputei corridas no Brasil inteiro, todas com motor de quatro tempos. Como comecei depois dos 30 anos, o motor de dois é muito agressivo, tem muita aceleração e você sente aqueles coices nas tuas costas. E depois dos 40, comecei a reparar que os karts com esses motores são muito rudes com a coluna. Este ano, fui treinar na Granja Viana com um kart shifter da Bia e ele parece um canhão. Tem hora que é difícil mantê-lo na pista, até pela dificuldade de você pilotar só com a mão esquerda, enquanto a outra você usa para trocar as marchas. É muito exaustivo. E o motor quatro tempos é um pouco mais gentil. Ele tem menos força em saída de curva e as reações dele são mais mansas. Ele é um pouco mais gentil com quem é da terceira idade (risos). Mas sempre gostei de motores quatro tempos, porque é uma opção mais barata, pois o kartismo profissional é caríssimo. Você anda o ano inteiro com ele, só trocando óleo. Para quem é amador, esse tipo de motor é uma grande solução, com uma tocada mais suave, menos agressiva, o que considero melhor para pilotos amadores.

Você banca isso sozinho ou tem algum patrocínio?

 Com Cláudia Abreu, na novela "Que Rei Sou Eu?"
Eu tive patrocínio durante todos esses anos, de várias empresas ligadas ao kartismo. Durante dez anos tive patrocínio da MG Pneus, quando tinha o Campeonato Carioca. Depois, tive patrocínio também por dez anos da Kart Mini e aí passei para a Mega, que é meu patrocinador até hoje. Tive também o patrocínio da ULV, que me fornecia o vestuário. E também de uma pista indoor em São Paulo, a Planet Kart, que me bancava os motores. Foram eles que tornaram possível esse hobby. Faz dois anos que disputo o Kart dos Artistas. Fui campeão nas duas edições, em 2013 e 2014. Com isso, você acaba conseguindo captar patrocinadores para ajudar nessa brincadeira. E aí consegui transformar meu hobby em algo lucrativo, sob o ponto de vista emocional e também financeiro. É até engraçado, porque eu costumo dizer que sou um cara de sorte, porque as duas coisas que são minhas paixões na vida eu consegui transformar em atividades prazerosas e rentáveis. Isso é um pulo do gato incrível, fazer o que você gosta e ainda ganhar algum dinheiro com isso.

Claro que não tenho nenhuma pretensão a não ser me divertir, mas encaro tudo com muito carinho e muita disciplina. Quanto tem as 500 Milhas, me preparo com dois ou três meses de antecedência, fazendo musculação, participando de treinamento para meia maratona, para eu ter condições, pois são 12 horas de corrida. Você fica dentro do kart em períodos de uma hora e chega a perder três litros de água, dividindo curvas com Felipe Massa, Danilo Dirani, Rubens Barrichello, Bia Figueiredo... essa turma aí. Você precisa estar muito em forma para poder aguentar o tranco. É um privilégio incrível dividir a pista e o equipamento com eles, pois você aprende a acertar o kart, onde é que freia e o que tem de ser feito.

Dá para perceber que é uma dedicação de alto nível.

Sou um aluno dedicado e fico repetindo até conseguir entender. E aprendo com os melhores, mas sem ter, jamais, a pretensão de querer ser um deles. Isso é algo que está muito bem resolvido na minha cabeça. Quero ser competitivo com aqueles que são do meu nível e eu consigo isso. Fui bicampeão nos dois últimos anos. Tenho uma certa experiência, o que me permite pilotar decentemente. Posso dizer que, andando com os pilotos de verdade, não dou vexame, não atrapalho ninguém. Aprendi a etiqueta da pista e consigo andar razoavelmente rápido, mas sem grandes pretensões. O importante é você saber os seus limites e conseguir se divertir. A frustração nasce quando você quer uma coisa que é impossível obter.

Voltando à Fórmula 1, como você compara a categoria hoje, nessa fase turbulenta de perda de audiência em todo o mundo e no meio de uma crise financeira, com a Fórmula 1 que você começou a acompanhar nos anos 70 e continuou a fazê-lo nos anos 80 e 90?

A Fórmula 1 deixa de ser interessante quando fica muito previsível. Hoje, salvo um evento como a chuva ou um grande acidente, ela é muito previsível, com aquela procissão, um andando atrás do outro e ultrapassagens artificiais com o DRS. Isso não é a essência do automobilismo. Quem gosta desse esporte, gosta de competição, gosta de ultrapassagem, gosta de alternâncias e de habilidades suplantando a limitação mecânica. Aquela famosa ultrapassagem do Piquet sobre o Senna em Hungaroring, por exemplo. Ele primeiro tentou por dentro e tomou um "x" do Senna. Depois, foi por fora, demonstrando uma habilidade sensacional naquele momento, porque além de ter feito a ultrapassagem por fora, ele estava superando o Ayrton Senna e não um Marcos Breda. Para um cara conseguir fazer aquilo, tinha que ter braço e tinha que ter coragem. E ao mesmo tempo, tinha que ter um regulamento que permitisse esse tipo de coisa.

Nos carros daquela época, a parte mecânica era muito mais importante do que a parte aerodinâmica. Depois de alguns anos, o downforce passou a ser tão importante que ficou complicado andar no vácuo de quem estava na frente, porque aí você tinha perda aerodinâmica e não conseguia fazer a curva. E também por causa do regulamento, as ultrapassagens ficaram mais difíceis, porque a maior responsável pela aderência dos carros passou a ser a aerodinâmica. Antigamente, os carros eram mais largos, os pneus também. A mecânica era mais decisiva. Dava para frear dentro da curva. Hoje, não dá mais pra fazer isso. Aí as pessoas dizem que os pilotos antigamente eram melhores, mas não é isso. O regulamento é que era diferente, os carros eram diferentes e as possibilidades de manobras eram diferentes também.

 A Mercedes saindo na frente no GP da China, em 2015
Acho que, para a Fórmula 1 voltar a atrair público, ela precisa se reinventar, buscar a essência do que é o automobilismo, do que é qualquer competição. Vou te dar como exemplo a Stock Car. Mesmo com a desorganização, com um regulamento mal escrito e mal interpretado e também os atrasos, ela tem algo muito atraente para o público, pois a disputa é muito parelha. Com um ou dois décimos, você pula 10 ou 15 posições no grid. São mais de 30 carros, separados por pouco mais de um segundo. Competitividade é a palavra-chave para tornar uma categoria interessante, não só para quem corre, mas também para quem assiste.

Na Fórmula 1, você vê as Mercedes na frente, a Ferrari ressurgindo das cinzas, a Williams em terceiro, brigando com a Red Bull. E ainda assim, é tudo muito previsível. Eu, às vezes, pego no sono quando estou assistindo as corridas, porque isso é muito chato. Não acontece nada, embora tenha grandes pilotos como o Lewis Hamilton, o Sebastian Vettel, o Nico Rosberg, o Felipe Massa, o Valtteri Bottas.... Piloto tem, porque para chegar lá você precisa ser bom, mas isso não basta para fazer uma categoria atraente. Ela precisa ser mais competitiva, no sentido de oferecer um grau maior de imprevisibilidade nos resultados. E que isso não seja fruto de casuísmos do regulamento, como o DRS, coisas como o push to pass, mas de condições para que as equipes produzam carros com rendimentos próximos, que permitam uma briga entre os pilotos. Nos anos 70 e 80, havia competições incríveis, porque os carros eram mais parelhos em termos de desempenho. Está faltando um pouco de romantismo e um espaço para a ousadia, o improviso, o talento, a habilidade e o lampejo do gênio. É o que se vê em corridas com chuva, quando entra o acaso. Quem anda de kart sabe. Na chuva, a dificuldade aumenta geometricamente, pois é ela que separa os homens dos meninos.

Você acompanha tudo o que passa na TV?

Acompanho tudo de Fórmula 1, algumas da Indy e todas da Stock Car, porque sou amigo de quase todo o grid. Às vezes assisto GP2, GP3, MotoGP ou Nascar. Tendo roda, motor e barulho, inevitavelmente vou parar para ver um pouquinho, porque gosto muito disso.

Você chegou a assistir alguma corrida de Fórmula 1 ao vivo, no local?

Sim. Foram vários GPs do Brasil, em Interlagos e em Jacarepaguá. Em 1988, vi as disputas com Senna na McLaren e o Piquet na Lotus. Vi algumas corridas recentes em Interlagos. E é uma adrelina. Lembro de ter visto alguns treinos também. No começo de 2001, por exemplo, eu estava estudando teatro em Londres e o Barrichello me convidou para acompanhar um treino da Ferrari em Jerez de La Frontera, durante os testes de inverno. Passei o dia todo lá no box da equipe, acompanhando tudo, com aqueles motores V10 gritando. Sentei em uma Ferrari e babando. Mas nunca andei em um Fórmula 1. Se eu desse uma volta, acho que eu seria capaz de infartar (risos).

Na Globo, além de você, tem mais alguém que também seja tão fissurado por corridas?

Como eu, não conheço ninguém, mas tenho alguns colegas na Globo que de vez em quando correm de kart, como o Marcos Pasquim e o Rafael Cardoso. São os caras com quem eu brigo pela liderança no Kart dos Artistas. Eles são meus principais rivais e também meus amigos, meus brothers. Mas na pista, é aquilo: baixou a viseira, nem minha mãe passa (risos).

2 comentários :

  1. Muito boa a entrevista Alexandre! Dá pra perceber que ele conhece muito da F1, das corridas e corrigir o Lito foi hilário!! Legal pq que é um lado do ator que poucos conhecem.

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  2. Eu já o conhecia desde a época das corridas de kart no Rio de Janeiro, em uma pista montada no estacionamento de um shopping que tem lá. Sabia do gosto dele pelo esporte, mas não imaginava que ele soubesse tanto sobre Fórmula 1. Me surpreendeu.

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