quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Simtek, a equipe favorita do Zé do Caixão

Nos bastidores, a Fórmula-1 sempre foi um excelente celeiro de histórias curiosas, às quais, na maioria das vezes, só mesmo quem circula nesse meio - entre pilotos, mecânicos, jornalistas ou curiosos - consegue ter acesso. Algumas são muito engraçadas; outras bastante cabeludas - e por isso mesmo impublicáveis. Uma delas eu publiquei aqui em 2009, na primeira fase do blog.

Hilária e ao mesmo tempo trágica, a história em questão foi lembrada em detalhes no livro Nada Mais Que A Verdade - A Extraordinária História do Jornal Notícias Populares, de Celso de Campos Jr., Denis Moreira, Giancarlo Lepiani e Maik Rene Lima, lançado em 2002 pela Carrenho Editorial.

Em 1994, tentando repetir a cobertura bem-sucedida do GP do Brasil de 1992, feita pelo João Gordo, da banda Ratos de Porão, a direção do finado NP convocou para seu time de repórteres uma figura que, por si só, já seria capaz de virar notícia em Interlagos: o ator e cineasta José Mojica Marins, mais conhecido como Zé do Caixão.

Em seu primeiro dia de cobertura, Zé do Caixão fez de tudo um pouco. Na primeira reportagem, já impôs seu estilo ao se referir à atmosfera presente na Fórmula-1: "O piloto em cada prova vive a emoção do último minuto de vida. Sua fama é merecida, não impora se é o primeiro ou o último. Todos têm um coração pulsando e uma pessoa esperando por eles. O manto da morte é igual para todos."

No paddock, passou boa parte do tempo tentando um contato com as principais estrelas do circo. Rubens Barrichello, para variar, assustou-se com a aparência do famoso personagem. De Ayrton Senna, o intrépido repórter sequer conseguiu se aproximar, impedido diversas vezes por Paulo Maluf, então prefeito da cidade de São Paulo.

No dia seguinte, teve sua credencial cassada, sob o argumento de que sua figura atraía a atenção de vários curiosos, atrapalhando o trabalho das equipes responsáveis pela segurança em Interlagos. Isso não impediu que o "repórter especial" do NP buscasse histórias curiosas nos portões do autódromo, junto ao público, dando continuidade ao seu trabalho.

Mas o fato mais curioso e inusitado ficou registrado mesmo é com a foto aí ao lado, publicada na edição de 25 de março, dois dias antes da corrida, mostrando Zé do Caixão nos boxes da Simtek, ao lado do carro de Roland Ratzenberger. A reportagem dizia:

"O Zé do Caixão deu a maior força pra Simtek, a pior equipe da Fórmula-1. Nosso enviado especial exorcizou a carroça da equipe e encheu de poder os pilotos Roland Ratzenberger e David Brabham com a força das trevas. O pessoal da Simtek adorou o Zé. Os carros da equipe são pretos e roxos, as cores preferidas do Zé, e ele acha que a Simtek pode surpreender. "Eu tirei todas as forças negativas do carro e, com essas cores, eles têm boas chances."

Coincidência ou não, Ratzenberger sequer se classificou para a corrida. No mês seguinte, 34 dias depois, o piloto austríaco morreu nos treinos do GP de San Marino, em Ímola, a bordo do mesmo carro "exorcizado" em Interlagos (clique na imagem abaixo para ampliá-la).


Como se apenas uma desgraça não fosse suficiente, pouco depois, na Espanha, o italiano Andrea Montermini assumiu o carro nº 32 da equipe - o mesmo usado por Ratzenberger - e sofreu um acidente bem feio nos treinos livres. Saldo do dia: um tornozelo fraturado e alguns meses de molho, fora das pistas. No ano seguinte, sofrendo com a falta de grana e nenhuma chance de garantir novos patrocínios, a Simtek fechou suas portas antes do fim da temporada.

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