terça-feira, 25 de novembro de 2014

Ciao, Marco Mattiacci!

Marco Mattiacci / © Getty Images
Sete meses de trabalho. Parece pouco, mas foi esse o tempo que durou a permanência de Marco Mattiacci na Fórmula 1, quando substituiu Stefano Domenicali no comando esportivo da Ferrari. A temporada de 2014 mal acabou e, às 10h da manhã de ontem, a equipe soltou o comunicado anunciando sua demissão. Em seu lugar, entra Maurizio Arrivabene, da área de marketing da Philip Morris, parceira de longa data da equipe italiana por meio da marca Marlboro.

Para os italianos, em 2014, o número 21 entrou em cena novamente. Até o ano 2000, foram necessários 21 anos para que Michael Schumacher acabasse com o jejum de títulos da equipe. E agora, 21 anos depois, pela primeira vez a Ferrari termina uma temporada sem vencer uma corrida.

Por conta disso, a atmosfera anda carregada nos arredores de Maranello. Em português bem claro: a casa caiu. E o desespero por resultados se traduziu ontem de manhã, com a degola de Mattiacci. Sua chegada ao novo ambiente, em abril, sempre foi vista com desconfiança. O motivo era a falta de intimidade com a Fórmula 1. Culpa dele? De forma alguma. Na Ferrari desde 2001, sua carreira foi toda voltada para a área de negócios, onde teve sucesso em mercados pouco explorados pela marca italiana no segmento de carros de rua, como China e Estados Unidos.

Em outras palavras, seu papel era, como se diz no mundo corporativo, "alavancar as vendas" (aliás, como são ridículos jargões desse tipo!). Ainda assim, isso não fazia de Mattiacci apenas "um vendedor de carros", como disse Galvão Bueno recentemente, em mais um arroubo de ignorância transmitido em rede nacional.

Por conta de seu pouco contato com o automobilismo esportivo, e em especial a Fórmula 1, acredito que sua indicação para o lugar de Domenicali tenha sido um dos últimos erros cometidos por Luca di Montezemolo. Mattiacci era visto com bons olhos pelo novo presidente, Sergio Marchionne, por conta de seus resultados no Oriente e na América do Norte. Justamente por isso é que sua saída repentina repercutiu mal e dá sinais de que a equipe quer mudanças internas significativas e resultados. A presença do vice-presidente, Piero Ferrari, em Abu Dhabi certamente não aconteceu por mero acaso.

Embora eu não enxergasse em Mattiacci alguém que fosse salvar a equipe dessa fase de sufoco, não imaginava que ele fosse durar tão pouco tempo em sua nova posição de comando. Fazendo uma análise bem superficial, vejo sua saída prematura como um tremendo equívoco, típica decisão de quem só pensa em resultados de curtíssimo prazo. Com a casa bagunçada - lembrando a Ferrari dos anos 80 e 90 - e um carro já nascido todo errado, não havia ninguém que pudesse virar o jogo rapidamente, na fase final do campeonato. Mattiacci merecia mais tempo na equipe.

Luca Marmorini
Quem acompanha atentamente os meandros da Fórmula 1 sabe que, nesse mundo tão particular, não existe milagre, e sim trabalho sério, de médio a longo prazo, sem abandonar o foco em resultados. Foi assim com Jean Todt no passado e, creio eu, deverá ser este o caminho a ser tomado por Arrivabene no futuro. Sair cortando cabeças no curto prazo não me parece ser a melhor opção, embora Mattiacci tenha feito uso do mesmo artifício. O ex-diretor de motores e eletrônica da equipe, Luca Marmorini, que o diga.

Não há jornalista ou fã no mundo que seja mais capaz do que esses caras para conduzir a gestão de uma equipe de Fórmula 1. Mas é que algumas coisas parecem ser tão óbvias que às vezes fica difícil não tecer opiniões sobre como elas poderiam ser feitas. Resta saber se em Maranello esse povo também pensa nisso, em coisas óbvias.

Hoje de manhã, o site da revista Autosport publicou uma reportagem sobre a verdadeira razão para a saída repentina de Mattiacci. Muito se falava sobre sua incapacidade de lidar com Fernando Alonso, o que acabou causando o término da relação do piloto espanhol com o time italiano. Tudo balela. Os verdadeiros motivos são outros. O que a Ferrari quer mesmo é garantir seu poder de influência política junto a Bernie Ecclestone. Para Sergio Marchionne, a pessoa mais indicada para atingir esse objetivo é Arrivabene, que é mais próximo de Ecclestone e sabe muito bem como o chefão da Fórmula 1 pensa e trabalha, algo que Mattiacci não conseguiu em sete meses no comando da equipe. Ainda assim, tirá-lo de campo tão cedo foi um equívoco.

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