Para muitos fãs aficionados por automobilismo, o austríaco Harald Ertl é
quase sempre lembrado por sua vasta barba e o imenso bigode, mais até do que por
suas habilidades na pista, onde obteve algum sucesso durante os anos em que
competiu em carros de turismo.
Na Fórmula-1, foram apenas 19 corridas, disputadas entre 1975 e 1978 (em 1980,
Ertl não se qualificou para a única corrida que tentou disputar), pelas equipes
Warsteiner Brewery, Hesketh, Ensign e ATS, sem obter
grandes resultados.
Desse período, seu momento mais marcante aconteceu durante o GP da Alemanha de
1976, em Nürburgring, quando parou seu carro no meio da pista e, junto com
Guy Edwards, Brett Lunger e Arturo Merzario, se embrenhou
no meio de uma Ferrari em chamas para salvar da morte o compatriota
Niki Lauda, que sairia dali com marcas que até hoje carrega em seu
rosto.
Depois da Fórmula-1, Ertl dedicou-se exclusivamente ao jornalismo esportivo,
onde atuava antes mesmo de se tornar piloto, retornando às pistas somente em
1982, quando planejava disputar a Renault 5 Turbo Cup.
Ertl morreria no dia 7 de abril daquele ano, quando o avião em que viajava com a
família durante o feriado de Páscoa sofreu uma pane no motor e caiu, rumo a
Sylt, ao norte da Alemanha. Além de Harald, também morreram seu cunhado
Jörg (que pilotava o avião), sua irmã, Gabi, e sua sobrinha,
Alexandra. Embora gravemente feridos, sua esposa, Vera, e seu
filho, Sebastian, sobreviveram ao acidente.
27 anos depois...
Recentemente, tive a sorte de encontrar o Sebastian em um dos muitos fóruns
sobre Fórmula-1 que existem por aí, justamente em um tópico sobre pilotos
austríacos. Feito o primeiro contato, por e-mail, sugeri a ele uma pequena
entrevista, para que ele pudesse contar um pouco sobre as lembranças que ainda
tem de seu pai e sua paixão pelo automobilismo, no que ele topou imediamente. As
respostas você confere agora, com exclusividade para o
Almanaque da Fórmula-1.
O que você sente quando vê as pessoas se referindo a seu pai como um dos
homens corajosos que salvaram Niki Lauda do terrível acidente em
Nürburgring?
Boa pergunta. Nunca atentei para o fato de as pessoas se lembrarem do meu pai
dessa maneira. Fico bastante orgulhoso quando leio alguma coisa sobre isso, mas
para mim ele foi apenas o meu pai. Hoje, entendo que foi um momento importante
para a Fórmula-1, mas não creio que haja tantas pessoas que ainda se lembrem
disso.
De que forma ele é conhecido hoje na Áustria em termos de popularidade,
principalmente em Zell am See, onde ele nasceu?
Não sei dizer. A última vez em que estive em Zell am See ou até mesmo na Áustria
foi em 1996, quando meu avô morreu.
E que lembranças você tem hoje de seu pai, levando em consideração que você
tinha apenas três anos quando ele se foi?
É difícil dizer, pois são apenas fragmentos de determinadas situações. São
suficientes para eu nutrir algum sentimento por ele, mas não para falar alguma
coisa a respeito disso. Lembro de uma vez em que ele estava trocando uma lâmpada
e eu liguei o interruptor. Ele ficou bastante zangado. :-)
O que aconteceu exatamente no dia do acidente?
Foi a bomba do combustível que congelou e o motor simplesmente parou de
funcionar. Meu tio ainda tentou aterrissar, mas não havia espaço suficiente e
estava tudo congelado.
Alguma vez você pensou em ser piloto, seguindo os passos de seu pai? O que
sua mãe pensou a respeito disso?
Sim! Os carros e tudo que tem um motor são minha grande paixão. Tanto que minhas
três primeiras palavras foram "papai", "mamãe" e "Porsche". Mas depois do
acidente minha mãe tentou se livrar dessas lembranças. E quando eu já tinha
idade suficiente para discutir este assunto com ela, já estava muito velho para
começar a correr.
Qual é a história mais fantástica ou engraçada que sua mãe tem de seu pai,
dos tempos em que ele corria?
Ela diz que aquela época era demais, mas não havia exatamente histórias
engraçadas. Tem uma que ela me conta que eu acho mais embaraçosa do que
engraçada. Foi durante uma corrida de DTM. Eu era pequeno e estava sentado no
teto do nosso motorhome. A cada volta, eu gritava "Hans Heyer!", que era o nome
do principal rival do meu pai naquele campeonato. Talvez por que o nome dele
fosse mais fácil de pronunciar do que "Harald Ertl"... Ah! Tem uma outra que ela
conta e que é realmente engraçada! Foi em Hockenheim, por volta de 1975. A
Warsteiner era a principal patrocinadora da equipe do meu pai e tinha vários
barris de cerveja guardados dentro de um caminhão. Nesse dia estava muito
quente, não havia muita água e todo mundo estava procurando algo para beber.
Como a equipe estava precisando de pneus novos e não tinha muita grana, adivinhe
o que aconteceu. Distribuíram as cervejas em troca dos pneus. Deve ter sido um
fim de semana bem divertido. :-)
Hoje, 27 anos depois, sua família ainda mantém algum contato ou amizade com
pessoas ligadas à Fórmula-1?
Não, e eu fico triste por isso. Mas como eu expliquei antes, minha mãe quis
esquecer tudo.
Sua família ainda guarda de lembrança algum objeto de seu pai da época em que
ele corria?
Pouca coisa. Alguns capacetes e troféus e um monte de fotos. Os capacetes e os
troféus estão guardados na garagem e as fotos estão espalhadas por aí. Eu tenho
um desenho bem bacana em cima da lareira e minha mãe tem algumas fotos sobre a
mesa e nas paredes da casa dela.
Embora não tenha se tornado um piloto, você hoje tem algum envolvimento com o
automobilismo?
Infelizmente, não. Exceto pelo fato de gastar uma boa grana em carros
extravagantes.
Quais são seus pilotos e equipes favoritos na Fórmula-1 atualmente e o que
você espera desta temporada?
Acho que Michael Schumacher é um dos melhores pilotos que a Fórmula-1 já viu. No
momento, não tenho nenhum favorito. São caras bons, mas nenhum que seja
considerado extraordinário. Gosto da Ferrari, por causa da tradição, mas em
geral a Fórmula-1 tem sido perfeita demais para me atrair. Não tem mais o
espírito das corridas. Tem muito dinheiro e tecnologia envolvidos e nenhuma
diversão. São 20 carros, um atrás do outro, e nenhuma ação. Mas com a introdução
do KERS, pode ser que tenhamos uma temporada interessante.
* Créditos das Fotos:
Forix (Harald Ertl),
Arquivo pessoal (Sebastian Ertl) e
Motorsport Magazin
(Vera Ertl)
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