quarta-feira, 30 de abril de 2014

Roland Ratzenberger: 20 anos depois

Roland RatzenbergerEm maio de 1986, a Fórmula 1 viu, pela última vez, um de seus pilotos morrer em decorrência de um acidente nas pistas. Foi quando o italiano Elio de Angelis perdeu o controle de sua Brabham BT55 durante testes particulares em Paul Ricard, na França, falecendo um dia depois.

Há 20 anos, o fantasma da morte decidiu cobrar novamente seu preço. E na tarde do dia 30 de abril de 1994, durante os treinos de classificação para o GP de San Marino, em Ímola, a Fórmula-1 perdia não só mais uma batalha contra o perigo, mas também o jovem austríaco Roland Ratzenberger.

Nascido em Salzburgo, em 1960, Ratzenberger alimentou desde criança sua paixão pelos carros. O interesse precoce era tanto que, aos quatro anos, era capaz de reconhecer a marca de qualquer automóvel que passasse em frente à sua casa. O gosto pela velocidade e pelas competições não demorou a chegar, e Roland acompanhava as corridas com atenção, especialmente quando havia algum piloto austríaco na disputa. Não foi à toa que, aos dez anos, Roland desabou em lágrimas ao ouvir pelo rádio as primeiras notícias da morte de seu ídolo, Jochen Rindt, durante os treinos para o GP da Itália de 1970, em Monza.


Seu pai, Rudolf, bem que tentou afastá-lo das pistas, mas Roland não sossegou, competindo em diversas categorias, como Fórmula Ford, Fórmula 3 e Fórmula 3000, inclusive no Japão, até alcançar o maior objetivo de sua vida: competir na Fórmula-1. Em 1999, em uma entrevista publicada na revista inglesa F1 Racing, Rudolf fez uma simples constatação ao ser questionado sobre a escolha profissional do filho: "Se Roland tivesse optado por se tornar um jogador de tênis, talvez ele não fosse feliz". Sábias palavras.


A realização de um sonho

Na Fórmula-1, como se sabe, a passagem de Ratzenberger durou pouco - apenas uma corrida, em Aida, no Japão, onde terminou em 11º lugar. Antes disso, Roland não se classificou para a prova em Interlagos. Em Ímola, seria sua terceira tentativa de garantir um lugar no grid.

Para ele, o velho circuito italiano era um lugar especial, pois foi justamente ali que realizou seu primeiro teste com um carro de Fórmula-1, o que lhe garantiu um lugar na pequena Simtek, onde disputaria apenas cinco etapas no campeonato, pagas com dinheiro do próprio bolso, acumulado durante os anos em que correu na Fórmula-3000 Japonesa.

O dia fatal

Lembro até hoje de tudo o que aconteceu naquele 30 de abril. Como passei boa parte do dia fora de casa, só fiquei sabendo do acidente à noite, ao ouvir na secretária eletrônica o recado de um amigo. Imediatamente, pus para rodar a fita que tinha deixado preparada para gravar tudo durante a manhã. Depois do susto do dia anterior, com o terrível acidente de Rubens Barrichello, o inesperado aconteceu e veio o acidente na Curva Villeneuve. Repentino e fatal.

Nos treinos para o GP de San Marino, Ratzenberger escapou da pista e, ao invés de retonar aos boxes, decidiu continuar na pista para tentar mais uma volta rápida. Com a força da pressão aerodinâmica, somada à alta velocidade, sua asa dianteira soltou-se do carro, deixando-o completamente fora de controle, indo direto ao muro, a mais de 300 km/h.

Até então, desde que comecei a acompanhar as corridas, em algum momento de 1978, só havia tido uma noção exata do quanto esse esporte era perigoso ao ouvir as notícias da morte de Elio de Angelis. Quatro anos antes, em 1982, a pouca idade se encarregou de que eu não desse a menor atenção para a gravidade dos acidentes que tiraram as vidas de Gilles Villeneuve e Riccardo Paletti, em um intervalo de apenas 36 dias.


As imagens da cabeça inerte de Ratzenberger e o capacete sujo de sangue não deixavam margem para nenhuma dúvida: algo muito grave tinha acontecido. E pela segunda vez eu voltava a ter uma incômoda sensação, ao ver a Fórmula-1 cobrando seu preço mais uma vez. Ratzenberger morreu na hora, em decorrência de fratura no pescoço.

Acompanhando a ridícula encenação de socorro ao piloto austríaco, lembro de ter comentado com minha mãe que, apesar de tudo, a corrida seria disputada e, por essa razão, outro piloto iria morrer (obviamente, sem ter a menor idéia de quem seria o escolhido da vez). O resto, como se sabe, é história.



Leia também:

- Homenagem a Roland Ratzenberger (GP Total)

* Créditos das Fotos: Sutton Images e Getty Images