terça-feira, 29 de novembro de 2016

George Harrison: um beatle na Fórmula 1

Para a maioria das pessoas, George Harrison - cuja morte completa hoje exatos 15 anos - era conhecido como um excelente guitarrista, ex-membro da banda mais revolucionária de todos os tempos e autor de sucessos inesquecíveis, como Here Comes The Sun, Something, My Sweet Lord, All Things Must Pass, All Those Years Ago e Got My Mind Set On You. Mas para muitos fãs de automobilismo, ele era muito mais do que isso.

George, sua primeira mulher, Patty Boyd, e o tricampeão Jim Clark, em 1966

Para quem não sabe, mas Harrison era um verdadeiro fanático por automobilismo. E essa paixão vem desde a época da adolescência, quando seu pai o levava ao circuito de Aintree, na Inglaterra, para assistir às corridas disputadas ali, inclusive de motos. Foi nessa fase que tornou-se fã do piloto inglês Geoff Duke, hexacampeão de motociclismo nas categorias de 350 e 500 cilindradas.

E veio a Fórmula 1

Das motos para os carros, a paixão foi imediata. Foi em 1955, também em Aintree que Harrison, então com 12 anos, assistiu seu primeiro Grande Prêmio de Fórmula 1, naquele ano vencido por Stirling Moss. Sempre que era perguntado sobre o que tinha achado da experiência, a resposta era direta: "Simplesmente gostei."

George Harrison, Jackie Stewart e Ringo Starr nas ruas de Monte Carlo, em 1977

Durante sua adolescência e início da juventude, a relação de George Harrison com a Fórmula 1 era semelhante a de qualquer jovem com seu esporte predileto. Passava parte do tempo recortando fotos e guardando tudo em um álbum, preservado com todo o cuidado na casa de seus pais. "Na minha coleção, tinha fotos dos carros de várias equipes, como BRM, Vanwall e Connaught", disse certa vez, em entrevista publicada na revista inglesa F1 Racing.

Nos anos da beatlemania

E logo depois vieram os Beatles, a fama e a correria típica do showbis. Nem assim, George deixou sua paixão de lado. Mesmo com toda a fama e fortuna, sempre que podia, ele dava um jeito de comparecer aos autódromos, munido de uma câmera, registrando tudo o que pudesse à sua frente. E como quase todo fã, enviava cartas às equipes pedindo material para completar e aumentar sua preciosa coleção.

Não foi à toa que, recentemente, ao visitar o paddock do circuito de Yas Marina, durante os treinos de classificação para o GP de Abu Dhabi, Paul McCartney comentou sobre o ambiente da Fórmula 1 e a paixão do amigo pelo esporte a motor: "Foi muito emocionante. Estive uma vez no GP de Mônaco, mas agora vejo o porquê de o George ter sido tão apaixonado por isso aqui. A adrenalina é incrível. Me sinto emocionado hoje, pois é como se ele estivesse aqui comigo."

Paul, Ringo, George e John curtindo uma disputa de autorama em 1963

Nos anos 70, já como ex-beatle, Harrison se tornaria figurinha fácil nos autódromos, tornando-se ainda mais próximo de chefes de equipe e pilotos. Com o passar do tempo, isso acabou lhe rendendo verdadeiras amizades, a ponto de ter tido a oportunidade de dar algumas voltas em um Surtees TS19 em Brands Hatch, com capacete e macacão emprestados por John Surtees, dono da equipe e campeão mundial em 1964, e pelo bicampeão de motociclismo Barry Sheene.

O primeiro ex-beatle no Brasil

Anos depois, essas mesmas amizades resultaram no lançamento do single Faster, gravado em 1978 em homenagem a todo o circo da Fórmula 1 e também em memória do sueco Ronnie Peterson, morto pouco antes, após um acidente no GP da Itália daquele ano.


E entre todos os amigos que fez na Fórmula 1, um dos mais próximos certamente foi Emerson Fittipaldi. "Em 1973, fui acompanhar o GP da Inglaterra em Brands Hatch e fomos apresentados pelo David Niven. Foi incrível. Eu achava e acho o Emerson fantástico até hoje", disse uma vez ao falar de sua amizade com o ex-piloto brasileiro.

Foi justamente por conta dessa amizade que Harrison acabou tornando-se o primeiro ex-beatle a visitar o Brasil. Foi em 1979, quando veio a São Paulo não para cantar, mas sim para acompanhar o GP do Brasil daquele ano e também dar uma força ao velho amigo, na época passando maus bocados com a Copersucar. Depois, ainda curtiu alguns dias de sol e praia na casa que Emerson mantinha no Guarujá, no litoral paulista. Sobre o circuito de Interlagos, ele comentou na época: É um circuito fantástico, um dos poucos do mundo em que você vê 90 por cento da pista."


Nos anos seguintes, George continuaria cultivando sua paixão como sempre. Mas sua relação com o automobilismo não se resumiu apenas em acompanhar as corridas, mas a cultivar hábitos típicos de quem tem muito dinheiro para gastar. Ele foi um dos primeiros a ter em sua garagem um exemplar do McLaren F1, o famoso McLaren de rua. E há quem diga que a carreira de Damon Hill no automobilismo só foi em frente graças à ajuda do ex-beatle.

O adeus

O GP do Canadá de 2001 foi sua última aparição no circo da Fórmula 1. Sofrendo há vários anos de câncer, George Harrison morreria meses depois, no dia 29 de novembro daquele ano, aos 58 anos. No dia seguinte, Emerson comentou sobre a perda do amigo: "Hoje é um dia bastante triste para mim, mas tenho certeza que George morreu acreditando na vida eterna e que um dia nós estaremos novamente juntos."



 O bate-papo entre dois ídolos: George Harrison e Ayrton Senna, em 1986


Com o jornalista Reginaldo Leme, no Autódromo de Interlagos, em 1979

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