segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Em Interlagos, a primeira vitória de José Carlos Pace

José Carlos Pace, o inesquecível Môco
Hoje é um dia muito especial para a história do automobilismo brasileiro, especialmente para aqueles que acompanhavam a Fórmula 1 nos anos 70. No dia 26 de janeiro de 1975, há exatos 40 anos, José Carlos Pace, o velho Môco, conquistou sua primeira e única vitória na categoria. E tinha que ser em sua casa, no Autódromo de Interlagos, que, dez anos depois, seria oficialmente batizado com seu nome, em uma justíssima homenagem.

Para a temporada de 1975, a Brabham deu a Pace um novo carro, tendo como base o mesmo modelo do ano anterior, o BT44, criando assim uma versão B, mas com uma série de melhorias, entre elas mudanças estruturais no cockpit, visando à proteção do piloto, a redução do peso total do carro, deixando-o mais próximo dos 575 kg mínimos exigidos pelo regulamento. O objetivo era repetir ou superar os resultados de 1974, em que a equipe obteve um total de três vitórias - todas com o argentino Carlos Reutemann -, uma pole position, seis pódios e 35 pontos no campeonato.

Tudo isso deixou Pace bastante animado. Além do carro modificado e melhorado, outro motivo de comemoração era o contrato de patrocínio recém-fechado com a Martini. E os resultados não demoraram a surgir. Já na etapa de abertura, na Argentina, Pace largou na primeira fila, em segundo, atrás de Jean-Pierre Jarier, da Shadow.

Durante a prova, Pace teve de lutar contra uma incômoda dor nas costelas, causada por um ajuste mal feito no banco do carro, que fazia com que seu corpo se movesse dentro do cockpit durante as curvas. Chegou a liderar por alguns instantes, quando rodou ao passar sobre o pó químico usado para apagar o incêndio no Copersucar de Wilsinho Fittipaldi, caindo para o sétimo lugar. Nas voltas seguintes, Pace foi se recuperando aos poucos, até chegar à quarta posição, atrás de Emerson Fittipaldi (McLaren), James Hunt (Hesketh) e Carlos Reutemann (Brabham), quando teve de abandonar na 49ª volta, com o motor estourado.

Apesar da frustração de não terminar a prova, Pace foi aplaudido de pé pela torcida local, que lhe atribuiu o carinhoso apelido de Pace Corazón, graças ao arrojo mostrado na pista. Nos boxes, foi recebido com festa pela equipe.

Depois da boa atuação em Buenos Aires, Pace passou a ser visto como um dos favoritos à vitória no GP do Brasil, em Interlagos, mas Môco demonstrava ter os pés no chão, quando disse, em entrevista à Folha de S. Paulo: "Vou poder brigar, correr com possibilidade e isso me anima. Sei que tenho que enfrentar o Emerson, o Peterson, o Reutemann, as Ferrari, o Shadow, o Tyrrell e ainda o James Hunt, que está correndo para vencer e tem carro. A corrida é equilibrada e isso torna tudo mais difícil".

Em Interlagos, já livre das dores que o incomodaram na Argentina, Pace também sentia-se bem sob o aspecto psicológico. Nos treinos, classificou-se em sexto, com o tempo de 2min31s58, três posições atrás de seu companheiro de equipe, Carlos Reutemann.

Na largada, Pace tirou bom proveito do carro, ultrapassando as Ferrari de Clay Regazzoni e Niki Lauda ainda na primeira volta, além de Emerson, que largou mal e caiu para a sexta posição. Na quinta volta, Jean-Pierre Jarier era o líder, com Reutemann em segundo. Pace manteve-se em terceiro até a 13ª volta, quando ultrapassou Reutemann no final da Reta Oposta, para delírio da multidão presente em Interlagos.

José Carlos Pace a bordo do Brabham BT44B, tirando proveito das modificações feitas para a temporada de 1975

Na volta 27, o motor da Shadow de Jarier falhou momentaneamente, reduzindo em 12 segundos a diferença em relação a Pace. Atrás deles, vinham Regazzoni, Emerson, Jochen Mass (McLaren) - que vinha fazendo uma excelente corrida, após largar em décimo -, Patrick Depailler (Tyrrell), Lauda e Reutemann. Três voltas depois, Jarier voltou a abrir vantagem, marcando 18 segundos sobre Pace, que por sua vez tinha quase dez segundos de diferença em relação a Emerson Fittipaldi.

A oito voltas para o final, Jarier sucumbiu, parando seu carro logo após a Curva do Sol. O piloto francês sai do carro bastante irritado, chuta um dos pneus e passa o restante da prova tendo de se conformar com o resultado inesperado. Seria sua primeira vitória na Fórmula 1, mas Jarier pagou o preço por exigir demais do carro, mesmo com os insistentes apelos do chefe de equipe, Don Nichols, para que poupasse o equipamento.




A essa altura, Pace seguia como líder, na sua terra e diante de sua torcida. Dez segundos depois, Emerson tentava a todo custo reduzir a diferença, sem sucesso, pois seu carro vinha saindo de traseira a cada curva. Com isso, Pace manteve a liderança, de onde não saiu mais, até a bandeirada final. Emerson terminou em segundo, estabelendo assim a primeira dobradinha brasileira na Fórmula 1, seguido pelo alemão Jochen Mass, seu companheiro na McLaren.



De volta ao pitlane, Pace foi praticamente arrancado de dentro do carro pela torcida em êxtase, que o carregou nos braços. Sabiamente, a polícia não demorou a agir e tratou de levá-lo para os boxes, para que pudesse descansar um pouco e se recompor. Eram outros tempos, em que os rígidos protocolos de hoje ainda não se faziam presentes. Chegando lá, Pace não aguentou. Jogou-se ao chão e desandou a chorar, sendo amparado pela esposa, Elda, e pela mãe, dona Amélia.

Momentos depois, já no pódio, foi abraçado por Emerson, enquanto agitava a bandeira nacional e ouvia a torcida gritar seu nome sem parar. Elda estava ao seu lado, grávida de seu segundo filho, Rodrigo, que nasceria quatro meses depois. Após receber o troféu de vencedor do então prefeito Miguel Colassuono e ouvir o Hino Nacional, Pace ganhou também o abraço de Jochen Mass.

Pace comemora a vitória no pódio, tendo ao seu lado a mulher, Elda, e os pilotos Emerson Fittipaldi e Jochen Mass

De volta aos boxes, durante as entrevistas, Pace repetia e agradecia repetidamente a todos os que confiaram nele até aquele momento, incluindo a torcida brasileira. Um momento que, sem dúvida, ficará guardado para sempre na história do nosso automobilismo.

2 comentários :

  1. José Carlos Extin Ladewig26 de janeiro de 2015 às 16:08

    Belo trabalho Alexandre. torcia pelo meu xará que, alternava grandes atuações e frustrações por falhas no equipamento. Tive a satisfação de ver essa dobradinha brasileira em Interlagos. Deu a sensação que "agora iria'. Mas o carro não era confiável, com sucessivas quebras, terminando em sexto no mundial com 24 pontos. 1977 Seria o ano do Môco, mas Deus teve outros planos para ele.

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  2. Obrigado pelo comentário, José Carlos. E que sorte a sua de ter tido a oportunidade de testemunhar esse momento tão importante da carreira do Môco, hein? Até hoje venho procurando uma cópia daquela corrida, sem sucesso. Um dia, quem sabe...

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